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O que ficou

April 2023

Curated by Inês Rebeca and I, a solo exhibition by artist Ânia Pais in collaboration with João Feio.

O que ficou

Na casa pintada

De memórias deixadas,

Rasgadas pelos dias,

Gastas pelo tempo,

Telhas e raízes

Balançam ao som do vento.

 

Este corpo profundo,

perfurado de alento,

É inerte em vida

mas crescente em mente.

 

Sombra deixada, cheia de alma,

repleta daquilo que foi e será num mudo para lá do purgatório.

Símbolo de ponta de iceberg,

Maior além daquilo que quer deixar perceber.

 

Mas o que será o que vejo e o que quero ver?

 

Dualidade diacrónica,

Entre terra e vento,

Daquilo que aqui está

E daquilo que se foi tecendo.

 

Casa desplantada,

De raizes expostas,

Que flores e pedras deixou

No pesar das minhas costas.

 

Debaixo dum jardim,

Num mundo de pernas para o ar,

Dos troncos

Nascem ondas do mar.

 

Num estudo sobre a gravidade,

Choro pelo ato de chorar

Para ver se engano as lágrimas,

E elas caem para o primeiro andar.

Para ver o que de saí de mim,

Se posso preencher o que decidiu vazar.

Para ver se liberto as mãos

E encho o chão com o meu olhar.

 

Na inevitabilidade da relação das sombras,

Na fundição de nós no escuro total,

Escondia-me em ti em dias de calor intenso

Mas hoje, por entre a luz, sei que aqui já não pertenço.

Desta não-presença,

Imprudentemente deixada,

Levo uma mão cheia de lar

E outra cheia de nada.

 

Mariana Baião Santos

 

Dividida por dois andares, a exposição a solo de Ânia Pais, O que ficou, é uma ode à memória de uma casa. Herdando o seu nome da obra do andar superior, a exposição explora a dualidade entre os restos mortais de um objeto e a memória que temos dele. Na separação física dos andares, entre a versão mais tenebrosa do resto de um corpo e a imensidade de objetos que dele saem é criado um diálogo entre a realidade e a imaginação.

 

Se uma casa tivesse raízes, será que poderia ser replantada? Será que cresceria, se não fosse cuidada? E de um mar de memórias, o que conseguiríamos pescar?

 

_________________________

 

Ânia Pais, nasceu na ilha de S. Miguel, Açores, em 1998. Licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, frequenta atualmente o Mestrado em Pintura na mesma instituição.

 

A instalação é o foco principal da sua investigação, tendo a experiência da paisagem como fonte de inspiração. Trabalha principalmente o diálogo entre corpos no vazio da cena, desenvolvendo uma comunicação visual e física entre o acontecimento e o espetador através de uma escritura corporal.

 

Exposições coletivas, Elogio da Matéria, Galeria Pintor Fernando de Azevedo, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa (2019), Prémio SGPCM, FBAUL- Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros, Lisboa (2019), Contemporary Interventions on Memory – Dialogue and Silence, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (2019), Puro Inóspito ou a transparência dos objetos corpóreos, Galeria de exposições temporárias do castelo de Portalegre (2019), Com(posto), Cultivamos Cultura, Galeria da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (2020); Reflection upon space - parts I e II, Lx Lapa, Lisboa (2021), Finalistas Pintura 2019.20 - Faculdade de Belas- Artes ULisboa, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa (2021). MOSTRA - Jovens Criadores, Instituto Superior de Gestão e Administração, Vila Nova de Gaia (2021), Paisagem Adentro, Museu dos Lanifícios da Universidade da Beira Interior, Covilhã (2021), Αδράνεια ΙΙ, ΜΠΑΓΚΕΙΟΝ (Omonoias Square), Grécia (2021). Dia Nacional dos Centros Históricos, Fundação da Juventude, Palácio das Artes, Porto (2022), The Female Thread, Emerge Revelations in Virtual Convergence, exposição online (2022). Small Changes Big Impact, Dulles International Airport, Washington (2022). A infinda Apetência da Luz do Sol, uma performance multidisciplinar de Ana Oliveira e Silva, Ânia Pais e Eduardo Molina, Zabra, Lisboa (2022) e Gretua, Aveiro (2023).

 

Exposições individuais, Paradoxo, Galeria António Lopes, Covilhã (2020), Fez-se Noite, Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico (2020), In Perpetuum, Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Lisboa (2021).

 

Performance O que ficou por Ana de Olivera e Silva. Dia 19 de Abril, das 19h às 20h. 

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